sábado, 22 de setembro de 2012

A amizade de Christiane com Kessi


Christiane aos 15 anos, em 1978


Susanne Kuhn, mais conhecida como Kessi, é a primeira amiga importante de Christiane F. que aparece no livro. Depois vieram Detlef, Babsi, Stella, as Tinas, mas elas são assunto para posts futuros.

Christiane e Kessi se conheceram no colégio Helmholtz-Oberschule Gesamtschule, e foi com ela que Christiane começou a frequentar o Centro de Jovens e depois a discoteca Sound. Foi com ela também que Christiane começou a se drogar.


Leia mais e veja fotos de Kessi
Fotos do colégio onde Christiane F. e Kessi estudaram


Christiane F. tinha então, onze ou doze anos de idade. Esta fase marca a transição da infância para a adolescência e representa o início de um busca por emancipação e individualidade. É neste momento que a criança passa por uma série de alterações psicológicas onde começa a dar mais importância às amizades, se agrupa com amigos que possuem algo em comum e passa a ser mais reflexiva e questionadora quanto aos modelos adquiridos pelos pais. São os primeiros passos da busca pela independência e da formação de sua personalidade.

Até então, Christiane F. sofria em casa com um pai negligente, irresponsável e violento. Por vezes apanhava ou levava sermões por pequenas travessuras ou acidentes. Dessa forma, em seu ambiente familiar, é provável se sentisse, inconscientemente, subjugada e desrespeitada.


Saiba mais sobre o pai de Christiane F.


Por este motivo, Christiane F. acabou por desenvolver grande necessidade de se afirmar: já aos oito anos de idade, como mecanismo de defesa, Christiane se impunha e assumia posturas de comando sobre as outras crianças, como podemos ver no seguinte trecho do livro "Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída...", sobre as brincadeiras nos elevadores do Conjunto Gropius:

"(...) brincar com os elevadores. A primeira coisa a fazer, evidentemente, era amolar uma outra criança. Pegávamos uma delas, metíamo-la à força dentro do elevador e apertávamos todos os botões, enquan to impedíamos o outro elevador de funcionar."


Por vezes, a própria Christiane foi a vítima desta brincadeira, que a colocava em condição de fraqueza, até que aprendeu a se defender, assumiu posição de poder e passou a fazer o mesmo com outras crianças menores e mais ingênuas.

Em outro trecho, Christiane demonstra o controle que ela e uma amiga exerciam sobre Anette, sua irmã mais nova:

"Nós lhe dávamos ordens: lavar a louça, tirar o pó, enfim, fazer todo o serviço doméstico de que nossos pais nos haviam encarregado. Depois disso, pegávamos nossas bonecas, trancávamos minha irmãzinha no apartamento e íamos passear. Nós só a deixávamos livre quando ela terminava todo o trabalho."


Em várias outras partes do livro, já aos doze anos de idade, Christiane demonstra estar acostumada a se afirmar perante os colegas de classe e professores, muitas vezes agredindo-os ou perturbando as aulas. Queria ser poderosa como seu pai e exercer controle sobre as pessoas.

Christiane amava o poder e foi, justamente, o poder de Kessi que despertou sua atenção. No livro, é possível perceber a grande admiração que sente por ela desde o momento em que se conhecem, afinal de contas, Kessi já tinha seios de verdade e parecia ser dois anos mais novas do que os outros. Além disso, ela tinha um namorado, se comportava como a líder da turma e todos a respeitavam. Christiane queria ser sua amiga.

"Meu dia de glória foi aquele em que Kessi me autorizou, finalmente, a sentar-me ao seu lado."


Christiane tinha por objetivo agradar Kessi, e é natural que copiasse o comportamento da amiga e fizesse tudo o que ela sugerisse. Implorou para que sua mãe lhe comprasse um sutiã, começou a usar maquiagem e a matar aula. Passou a frequentar, também, o Centro de Jovens, aonde conheceu vários outros jovens tão descolados e poderosos quanto Kessi. Christiane queria ser como eles.

Um dia, apareceram no Centro com um enorme cachimbo contendo haxixe, um derivado da maconha. Acenderam e o cachimbo começou a circular. Todos tragaram, inclusive Kessi. Na primeira vez, assustada, Christiane recusou. No entanto, se quisesse fazer parte do grupo, não poderia continuar recusando por muito tempo.
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