
• Conheça a rua Joachim-Gottschalk-Weg
• O Conjunto Gropius
• O colégio em que Christiane F. estudou
A informação que circula pela internet é de que esta seria a porta do apartamento de Christiane, no décimo primeiro andar do edifício.

"(...) estava sempre dando broncas em minha mãe por ela gastar muito, quando, na verdade, era ela que nos sustentava. Às vezes ela respondia; dizia-lhe que nas bebedeiras, nas farras com as mulheres e nos gastos que ele tinha com o carro é que ia a maior parte do dinheiro. E vinha nova pancadaria."
"Somente mais tarde (...) comecei a sacar um pouco do que se passava. Simplesmente ele não tinha uma vida que correspondesse ao seu nível! A ambição o devorava, e ele sempre fracassava."
"(...) pôs na cabeça que minha mãe e eu, que estava no ventre de mamãe quando se casaram, éramos as responsáveis pelo seu fracasso. Dos seus sonhos, tudo o que restou foi o Porsche e alguns amigos muito faroleiros."
"Não somente odiava a família como ainda, pura e simplesmente, a rejeitava. Isso chegava a tal ponto que nenhum dos seus amigos deveria saber que ele era casado e pai de família. Quando os encontrávamos ou quando algum deles vinha buscá-lo em casa, devíamos chamá-lo de "Tio Richard". Eu, de tanto apanhar, aprendi muito bem e nunca errava: na presença de estranhos, ele era meu tio."
"No conjunto Gropius aprendia-se, por assim dizer, automaticamente, a desobedecer às proibições. Aliás, tudo ou quase tudo era proibido, principalmente brincar com aquilo que era divertido. O conjunto era pontilhado de placas. Os pretensos parques que separavam os prédios eram verdadeiras florestas de placas e quase todas essas placas proibiam qualquer coisa às crianças."
"Era proibido brincar, correr, andar de bicicleta ou de patins. Em qualquer lugar onde houvesse um pouco de grama havia também placas: É PROIBIDO PISAR NA GRAMA."
"Cada locatário tinha um boxe fechado por uma grade que não chegava até o teto (...) Era uma delícia o pavor de se encontrar escondido no escuro no meio de todas aquelas coisas ali guardadas. Além disso, tínhamos medo de ser surpreendidos por algum locatário. Sabíamos muito bem que essa brincadeira era, pelo menos, duplamente proibida. Aí a gente se divertia remexendo nos boxes à procura de coisas engraçadas: brinquedos, roupas velhas para nos fantasiarmos (...) Quando encontrávamos algo muito interessante, não devolvíamos."
"Assim, no conjunto Gropius aprendia-se, automaticamente, que tudo o que era permitido era incrivelmente chato e tudo o que era proibido, divertido."
"Os desertos de concreto de muitas das 'zonas de saneamento' modernas encerram as pessoas em um ambiente totalmente artificial, frio, mecânico, que agrava em proporções catastróficas todos os conflitos que as famílias já tinham antes de nele se instalarem. O conjunto residencial Gropius é apenas um exemplo: há muitos desses grandes conjuntos residenciais construídos unicamente dentro de uma perspectiva funcional, técnica, esquecidas as necessidades afetivas dos seres humanos. Transformam-se em um excelente meio para o desenvolvimento de problemas psicológicos. Não é por acaso que os casos mais graves de alcoolismo e toxicomania juvenil aí estão implantados. Além disso, as escolas são semelhantes a grandes fábricas, onde reina o anonimato, a solidão moral e uma concorrência desenfreada e brutal."
"Tinha então oito anos. Meu maior desejo era crescer logo, ser adulta, adulta como meu pai. (...) No caminho de volta da escola para nossas casas remexíamos em todos os cinzeiros e latas de lixo para catar as guimbas de cigarro. Dávamos um jeito nelas e fumávamos."
"Ali nos instalamos em um apartamento de dois cômodos e meio, no décimo primeiro andar. O meio cômodo era o quarto das crianças. Todas as coisas bonitas de que minha mãe nos falara jamais caberiam ali."
"Dos oitenta e quatro mortos vítimas de heroína no ano de 1977, não tínhamos o menor conhecimento de vinte e quatro desses viciados, e eles, com certeza, não morreram em conseqüência de uma primeira dose."
"Inconscientemente procurava sempre essas informações. Os artigos eram cada vez mais curtos, porque cada vez havia mais mortos encontrados com uma agulha plantada no braço."
"Às vezes fornecedores passavam pelo pedaço com um bom sortimento. Bastava pedir qualquer coisa para voar e eles respondiam: 'O que você quer? Valium, Valeron, maconha, LSD, cocaína, heroína?'"
"Eu sabia que no Sound havia uma 'cena'. Ali se vendia de tudo, desde a maconha até a heroína, incluído o Mandrix e o Valium."
"O conjunto Gropius abriga, em suas torres, quarenta e cinco mil pessoas. Entre os prédios, gramados e centros comerciais. De longe, tudo isso tem um ar de novo, tudo parece muito bem-cuidado, mas, quando se está dentro, entre os prédios, fede a xixi e a cocô. É por causa de todos os cachorros e crianças que vivem nesse conjunto. E no vão da escada, fede ainda mais."
"Sem me dar conta, eu me dividi em duas. Duas pessoas absolutamente diferentes. Escrevia cartas a mim mesma. Mais precisamente Christiane escrevia para a Vera. Vera é o meu segundo nome. Christiane era a menina de 13 anos que queria ir à casa da avó, a menina comportada; Vera, a drogada."