quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Foto de Christiane F. criança

Na imagem a seguir, vemos uma Christiane F. (ao centro da foto, de casaco verde) ainda criança. Não se sabe ao certo quanto anos de idade ela tinha na data desta foto, mas, provavelmente, coincide com o período em que residia com a família no conjunto Gropius.


Este é um momento chave para a compreensão do que veio a suceder na vida de Chris e na de muitos jovens que, como ela, também se tornaram viciados. Como vimos no livro, foi grande o número de vítimas fatais da droga.

"Dos oitenta e quatro mortos vítimas de heroína no ano de 1977, não tínhamos o menor conhecimento de vinte e quatro desses viciados, e eles, com certeza, não morreram em conseqüência de uma primeira dose."

"Inconscientemente procurava sempre essas informações. Os artigos eram cada vez mais curtos, porque cada vez havia mais mortos encontrados com uma agulha plantada no braço."



Lendo Christiane F. em 2012

Hoje em dia, para leitores brasileiros, a história de Christiane F. choca muito mais do que deveria pelo momento e até mesmo pelo país em que vivemos. Para a época e país em que a história aconteceu, o que foi retratado no livro era até muito normal. Como podemos ver nos trechos do livro destacados acima, somente em 1977, em Berlim, 84 jovens foram vítimas fatais da heroína, dos quase 600 que morreram em toda Alemanha Ocidental. Se formos juntar a esta conta os jovens que usavam heroína e sobreviveram, como Christiane F., Detlef e Stella, imagina-se que o número de drogados era realmente muito alto.

A história nos choca tão profundamente porque vivemos no Brasil, um país aonde a heroína não é tão comum e as meninas de treze anos não são tão maduras quanto Christiane F. era. Estamos passando por um momento aonde a maioria das meninas de treze anos está na escola e na internet, nas redes sociais, escrevendo bobagens e sendo nada mais do que meninas de treze anos de idade. Nossos adolescentes são alienados e fúteis em um tipo de alienação e futilidade muito diferente da dos adolescentes alemães dos anos 70, portanto, há de se considerar as diferenças culturais entre Brasil e Alemanha.

Falemos de outra menina que disputa com Christiane F. o posto de jovem alemã mais famosa no mundo: Anne Frank. Anne, supostamente, escreveu um dos maiores best sellers de todos os tempos contando sua história de refugiada judia durante o período do Holocausto ("O diário de Anne Frank", Editora Record, 350 páginas) de forma muito inteligente e eloquente. Quem já tiver lido este livro, concordará que Anne Frank, com toda certeza, era muito mais madura e erudita do que sua idade sugeria. Apesar de terem nascido em épocas distintas e terem tido vidas diferentes, acredito que o mesmo amadurecimento precoce tenha ocorrido com Christiane F., talvez devido à cultura alemã, ao tipo de criação que as famílias dão a suas crianças ou à educação básica que as crianças recebem nas escolas alemãs. Nos anos 70, as drogas encontraram em Berlim jovens muito mais maduros do que os de hoje em dia e é inútil comparar Christiane F. e seus amigos às crianças que têm treze ou quatorze anos em 2012.

No Brasil de hoje não se encontra heroína em cada esquina, ao passo que em Berlim, a droga era vendida em qualquer lugar.

"Às vezes fornecedores passavam pelo pedaço com um bom sortimento. Bastava pedir qualquer coisa para voar e eles respondiam: 'O que você quer? Valium, Valeron, maconha, LSD, cocaína, heroína?'"

"Eu sabia que no Sound havia uma 'cena'. Ali se vendia de tudo, desde a maconha até a heroína, incluído o Mandrix e o Valium."

Sobre o Mandrix, o Valeron e o Valium, que são medicamentos de farmácia, a fiscalização no Brasil é muito intensa e não se pode comprar sem receita (é claro que existe um mercado negro, mas também não é fácil encontrar). Quanto à heroína, quando encontrada no Brasil, custa caro, muito caro. Para se ter uma ideia, cerca de dez anos atrás, no fim do governo FHC e com a alta do dólar, um grama no Brasil custava de R$250 a R$400. Essa informação foi publicada em uma edição n° 4 da Revista Jovem Pan, 2003, em uma reportagem sobre brasileiros viciados em heroína. Leia esta reportagem escaneada. Hoje não sei mais quanto custa, mas não deve ter barateado muito.


Como vivem os toxicômanos no Brasil
O Conjunto Gropius
O edifício aonde Christiane F. viveu
A escola de Christiane F.


De qualquer forma, a heroína é uma droga cara para a realidade latino americana e não é comum vermos casos de viciados em heroína no Brasil, mesmo entre ricos e artistas que poderiam pagar o preço alto desta droga, ao passo que, se olharmos para outros países, é bem fácil apontar diversos ídolos internacionais que fizeram uso dela: Kurt Cobain, Courtney Love, River Phoenix, Janis Joplin, Amy Winehouse, Pete Doherty, Nikki Sixx e mais recentemente, Macaulay Culkin, entre outros. Isso sem falar da quantidade de viciados anônimos que deve haver lá fora.

Mas por que isso acontece? Por que a heroína é tão cara no Brasil? Em breve falaremos da questão a distribuição desta droga para o continente americano.
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